Life is Strange – Before The Storm – é possível sobreviver na adolescência?

Redator Pixel

Antes de começar a ler este texto, tenho duas sugestões para você: leia escutando a trilha sonora do jogo, pegue uma bebida de sua preferência. Isto garante que a atmosfera do game seja criada. Boa leitura!

Quando o primeiro Life is Strange foi lançado eu estava entrando na faculdade de jornalismo, ainda morava com meus pais e nem tinha conseguido um estágio na área. Ainda me sentia muito adolescente. Ver Max Caulfield passar por dificuldades em um ambiente escolar fez com que eu me identificasse imediatamente e sentisse um pesar por ela, já que passei e passo por muitos problemas sociais no meio acadêmico. Porém, jogando Life is Strange – Before The Storm, descobri que a vida de Max Caufield era fichinha, ter que salvar seus amigos utilizando seu super poder não se compara aos problemas enfrentados por Chloe Price.

 

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Sua solidão é, sem dúvida, um resumo de tudo que aconteceu em sua vida. Sua melhor e única amiga simplesmente foi embora para outra cidade (Seattle) e raramente se falam, mesmo com a possibilidade de trocar mensagens por celular ou pela internet. Max Caufield é muito canalha, responde as mensagens de maneira curta e demora dias para dar sinal de vida. Chloe ainda escreve em seu diário pensando em Max e sente uma falta absurda dela.

Ainda assim o maior ponto de virada na vida de Chloe não foi a partida de Max. Na transição da infância para a adolescência ela viu sua vida virar de cabeça pra baixo. Em uma tarde tranquila, ela e seu pai saem de carro para buscar sua mãe no mercado, um caminhão fura o sinal vermelho e atinge eles. Seu pai morre.

O amor que tinha por Willian Price é ilustrado a todo momento durante o jogo e demonstra que ela nunca foi capaz de superar tal perda. Pesadelos e alucinações com o pai a assombram a todo momento. Estas cenas são fortes e sempre difíceis de serem encaradas. Sabe quando você tem um sonho bom e aos poucos percebe que na verdade este sonho não é possível e ele passa a se tornar ruim? Um dos sonhos mais pesados dela termina com um rastro de sangue em meio ao palco simbolizando a morte do pai.

 

Um dos diálogos que mais marcam o game acontece pouco depois de Chloe ferrar com a vida de Elliot Hampden no escritório de James Amber. Depois desta cena, ela foge com o dinheiro destinado para matar Sera, mãe biológica de Rachel, pega a caminhonete e sai do local sem ser vista pela polícia. A rebelde de mecha azul dirige em alta velocidade e quase bate contra um caminhão.

Após ter escapado de uma morte semelhante a de seu pai, ela tenta se acalmar e entender tudo que está acontecendo. Começa seus pensamentos olhando para a floresta devastada pelo incêndio que Rachel deu início ao ver James beijando Sera, que até então era uma estranha para ela. Chloe não consegue acreditar o quanto o pai de Rachel esconde da filha e até onde é capaz de ir para impedir que descubra todas as verdades.

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nas relações familiares e não tem medo de chocar.” parallax=”off” direction=”left” revealfx=”fromleft”]

Neste momento, Chloe vê seu pai e inicia uma conversa que me fez pausar o jogo por muitos minutos, levantar para pegar um café e ficar olhando pela janela aqui de casa, que por sinal me lembra o farol de Arcadia Bay. O forte desta cena está em Willian afirmando que não é fácil ser pai e que faria qualquer coisa para manter Chloe em segurança. Como ele já está morto, e esta é uma alucinação, fica evidente que estes são os pensamentos dela sobre a situação. Todo este trecho do jogo mostra um lado altamente compreensível da moça rebelde. Foi como se percebesse e falasse consigo: “Hey! Por que você está tão irritada com James? O seu pai também faria qualquer coisa para te manter segura. Ou você acha que ele nunca mentiu pra você?”

Até minha adolescência chegar, os defeitos de meus pais nunca eram tão evidentes. A imagem perfeita que eu tinha deles começou a mudar a medida que eu envelhecia, conhecia novas pessoas e aprendia mais sobre a vida. Foi difícil lidar com esta realidade, mas aos poucos, vendo outras famílias e crescendo, percebi que todos os pais mentem, escondem fatos e guiam seus filhos de acordo com o que acham certo para protegê-los do que julgam perigoso. Esta também foi a ficha que caiu para Chloe neste momento.

 

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São momentos assim que fazem Before The Storm ser tão bonito quanto o primeiro jogo divulgado pela Square Enix. O modo como apresenta cada personagem, mostrando as ambições, pequenas frustrações e as diversas imperfeições que nós, humanos, temos. Todos os personagens na história têm defeitos e qualidades, assim como na vida real. Mesmo aquelas pessoas que não suportamos e não queremos por perto têm qualidades invejáveis, e é isso que torna as relações pessoais tão ricas. Até o seu melhor amigo às vezes é insuportável por alguma característica e você simplesmente não gosta, mas ele não deixa de ser menos amigo por isso. Se fosse uma disciplina na faculdade, esse jogo poderia facilmente se chamar “Introdução as relações pessoais I”.

Todos podemos discordar em algo sem sermos inimigos
e podemos concordar sem precisar sermos melhores amigos.

As pessoas são diferentes, pensam diferente, têm defeitos diferentes. Não é porque alguém concorda comigo em algum aspecto que somos pessoas compatíveis, ou porque discorda em alguma questão que somos incompatíveis. Não podemos condenar ou glorificar alguém por causa de uma qualidade ou defeito. É claro. Você tem que saber pesar, a vida não é uma máxima de oito ou oitenta. Se alguém ameaça sua família de morte, você não vai olhar e dizer: “Nossa, que bonitinho.”

Algo que gostei na série Life is Strange é que ela sempre tenta mostrar os dois lados da história e brincar com essa dualidade da vida.  Drew, o valentão do time de futebol, começou a vender drogas para sustentar sua família. Seu pai estava desempregado, seu irmão Mikey ainda era muito novo para qualquer tipo de trabalho e ele precisava da dinheiro para manter sua família viva. Depois de um tempo devendo uma grana preta para os traficantes, Frank manda Chloe resgatar o dinheiro que o jovem atleta devia. Ela entra no dormitório do rapaz, pega o dinheiro e quando está para sair, chega companhia: Drew e Mikey perseguidos por Damon Merrick, o chefe de Frank. Louco, né?

Caso tenha cansado da trilha sonora do jogo, descobri
que esta playlist também passa uma vibe muito parecida 

Drew pede para que você fique trancado com seu irmãozinho no quarto e não abra a porta. Neste momento você tem duas opções, deixar que o valentão apanhe protegendo Mikey ou abrir a porta impedindo que Drew apanhe mais. Nas duas situações alguém vai terminar ferido, Mikey ou Drew e um deles ganhará uma cama no hospital no fim do jogo. Você pode conferir as possibilidades no vídeo abaixo.

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Eu cito este trecho para mais uma vez falar que, na maior parte do tempo, este é um jogo que fala de família. Parece que não importa o ângulo que olhamos, acabamos sempre esbarrando nas relações familiares. Todos os personagens principais apresentam problemas do tipo. Chloe ainda não conseguiu superar a perda de seu pai e luta para aceitar um padastro em seu lar. Rachel não suporta seu pai político, mentiroso e acaba descobrindo sua verdadeira mãe biológica. Se formos adiante podemos mencionar Drew, o jogador de futebol americano, a solidão de Frank, que acaba comprando um cachorro fazer companhia, Nathan Prescott, garoto mimado com sérios problemas sociais, e por aí vai.

Isto perdura durante todo o game. O amor de Sera faz com que ela queria proteger sua filha a todo custo e não quer que Rachel descubra que seu pai mandou matar sua mãe biológica! Mesmo depois de… ELE TER CONTRATADO ALGUÉM PARA MATÁ-LA! Isso tudo para que Rachel continue com uma imagem perfeita do pai e seja feliz. Depois, podemos obter um fim em que Sera e Rachel se encontram, mas para isso você precisa ter escolhido ficar com o bracelete da atriz leonina rebelde em vez de beijá-la quando decidem fugir, e entregar à Sera neste diálogo.

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Tem uma música que resume a importância de amigos e familiares em nossa vida. O nome é Old Friends dos noruegueses Ylvis. Nela, tem uma frase que diz “Life is a bitch, a wise man said. No matter what you end up dead and all you can wish for is a friend.” Este feeling está em Life is Strange, na amizade de Rachel e Chloe, ou de Chloe e Max, nos laços familiares a todo tempo representados.

No primeiro dia que comecei a escrever este artigo, parei na metade, desliguei meu computador, liguei para minha mãe e disse: “Tô indo aí”. Meus pais moram em uma cidade próxima, dá pouco mais de uma hora de ônibus. Quando um jogo consegue despertar isso em mim, eu sei que ele valeu a pena.

Quantos jogos você conhece que abordam a relação familiar de maneira tão intensa? Quantos games nos fazem questionar nossas relações pessoais? Ao meu ver, Life is Strange, tanto este prequel quanto o primeiro jogo da série, são diferenciados porque conseguem nos fazer refletir sobre como nos relacionamos com outras pessoas e o impacto que elas têm em nossas vidas. As escolhas que fazemos podem afastar ou aproximar pessoas, fazê-las mais tristes ou mais felizes. Mas o mais importante de tudo, Life is Strange mostra que a vida é feita de escolhas e que nunca poderemos voltar atrás.

Ficha técnica:

Life is Strange – Before The Storm é um jogo em terceira pessoa disponível para PlayStation 4, Xbox One, Microsoft Windows. O game teve a divulgação como responsabilidade da Square Enix, mas seu desenvolvimento foi feito pelo estúdio Deck Nine.

Sua história acontece cronologicamente antes de Life is Strange, primeiro jogo da série desenvolvido pela Dontnod Entertainment, estúdio francês que está trabalhando em Life is Strange 2. Os direitos do título Life is Strange e o universo de Arcadia Bay (cidade onde tudo acontece no jogo), são da Square Enix.

Capa de Life is Strange Before The Storm

O primeiro jogo da série foi lançado em 29 de janeiro de 2015, recebeu inúmeras premiações e chocou com sua narrativa diferenciada e seus plots. Before The Storm chegou em  31 de agosto de 2017, sendo que o episódio 3 apenas foi liberado em 19 de dezembro de 2017. Desenvolvido pelo mesmo motor gráfico de Cuphead e Firewatch, você pode conferir os requisitos de sistema na página do jogo na Steam.

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